Na abertura do evento, foi anunciada a assinatura primeiro decreto de reconhecimento de um território quilombola no estado

Belo Horizonte recebeu neste final de semana, entre 11 e 13 de maio, a 3ª edição do Canjerê – Festival de Cultura Quilombola de Minas Gerais. Os 130 anos da abolição da escravatura no Brasil, celebrados em 2018, foi tema da edição, realizada na Praça da Liberdade e espaços culturais do Circuito Liberdade. Na abertura do evento, o secretário de Desenvolvimento Agrário, Alexandre Chumbinho, anunciou uma importante medida do Governo do Estado de Minas Gerais: a assinatura do primeiro decreto de reconhecimento de um território quilombola em Minas Gerais.

A medida autoriza a destinação de 1.119 hectares de terras para quilombolas da Comunidade de Quilombo, na cidade de Minas Novas, Território Alto Jequitinhonha, beneficiando dezenas de famílias que vivem no local. “Esse decreto é uma forma de reconhecer uma dívida histórica com as comunidades quilombolas e transformá-la em compromisso”, afirma o secretário. O Festival Canjerê é organizado pela Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais -N’Golo com a parceria do Governo do Estado, por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG).

Jornalista e pesquisadora na área da representatividade negra, Etiene Martins, da livraria Bantu - que reúne obras de autores negros - participou pela segunda vez do Canjerê. Para ela, o festival é importante pelo acesso que proporciona à cultura quilombola. "A nossa cultura é negada. Minas Gerais, por exemplo, tem uma cultura negra. A maior parte da população é negra e muitas vezes a nossa cultura é tratada como invisível, tida como folclore. Mas não é folclore, é a nossa realidade, nossa vivência. É uma herança ancestral que trouxemos da África pra cá”, disse ela.

Nadir Costa, artesã, moradora da comunidade rural Malhada Grande, no município Catuti, esteve no Canjerê pela primeira vez. Ela acredita que eventos como esse são importantes para que produtores e artistas negros do interior, como ela, tenham mais oportunidade de alcançar compradores. "Lá, raramente o que a gente faz tem muito valor, aqui é muito mais fácil expor noss trabalho e vender o que produzimos”, afirma.

Além das mais de 30 apresentações culturais das comunidades quilombolas, o Canjerê contou com shows musicais de artistas como Pereira da Viola, Samba de Terreiro e do grupo Realidade Negra, do Rio de Janeiro e reuniu um grande público na Praça da Liberdade.

Visitante da feira de artesanato e culinária do festival, Débora Cristina Silva acredita que as manifestações culturais em espaços públicos colaboram para desmistificar a cultura quilombola. "O contato com esses tipos de expressões artísticas contribui para que as pessoas vejam o valor dessa cultura”, acredita. Debora acrescenta ainda que o evento é um instrumento que ajuda a diminuir o preconceito com os quilombolas.

Um cortejo com a participação das guardas de congados de Ribeirão das Neves, São Romão, Santa Luzia, Berilo, Minas Novas, Chapada do Norte, Janaúba, Jequitibá, Bom Despacho e Belo Vale encerrou o Canjerê no domingo de manhã. A concentração foi na Praça da Liberdade e o cortejo seguiu para a Catedral de Lourdes.

Neste ano, além das 60 barracas na Alameda da Educação, na Praça da Liberdade, que reuniram artesanato, culinária e produtos das comunidades, o Canjerê teve também exibições de filmes quilombolas, oficinas e rodas de conversa nos espaços do Circuito Liberdade.