Um festival dedicado às bandas de taquara do Vale do Jequitinhonha

Será realizado, na comunidade de Palmeiras do Vale, município de Setubinha/MG, nos dias 27 e 28 de setembro, sábado e domingo, o 8º Encontro de Flautas do Jequitinhonha. É um festival dedicado à cultura regional e especialmente ao importante patrimônio cultural do Vale do Jequitinhonha, as bandas de taquara.

Com entrada franca, o evento reunirá as bandas de taquara do Alto-Médio Jequitinhonha, além de grupos de pifeiros e folias de reis.

O Distrito de Palmeiras do Vale fica localizado a 12 km da sede municipal de Setubinha, na divisa com o município de Novo Cruzeiro.

O evento terá apresentações de grupos tradicionais, oficina de construção de flautas, danças regionais, feira de artesanato e produtos da roça, produzidos nas comunidades da região. Estão previstas ainda atividades ligadas ao patrimônio cultural, com representantes do Iepha-MG e do IPHAN. No Encontro, doze bandas de taquara dos municípios de Minas Novas, Capelinha, Angelândia e Setubinha estarão presentes, além de folias e grupos de pifeiros dos municípios de Novo Cruzeiro, Almenara, Serro, Conceição do Mato Dentro e Santa Bárbara.

PROGRAMAÇÃO:

8º ENCONTRO DE FLAUTAS DO JEQUITINHONHA

LOCAL – PALMEIRAS DO VALE - SETUBINHA/MG

SÁBADO – 27/09/2025

8:30 Café da manhã / recepção dos convidados e participantes

9:30 Oficina de Inventário Cultural Participativo – Processo de Registro das Flautas Tradicionais de Minas Gerais como Patrimônio Imaterial (Iepha-MG)

12:30 Almoço

13:30 Apresentação Marujos Originais da Flauta

14:00 Fórum de Minas Gerais do Inventário Nacional das Bandas de Pífanos (IPHAN)

16:00 Lanche

16:30 Apresentações musicais – Folias e Pifeiros

18:30 Jantar

19:30 Danças regionais (nove, vilão, cavava-do-pau, entre outras)

DOMINGO – 28/09/2025

8:00 Café da manhã / recepção dos convidados e participantes

9:00 Apresentações musicais das bandas de taquara e grupos convidados / oficina de confecção de flautas

12:00 Almoço

13:00 Apresentações musicais das bandas de taquara e grupos convidados

15:00 Cortejo de encerramento

GRUPOS MUSICAIS CONVIDADOS

Marujos Originais da Flauta de Palmeiras do Vale (Setubinha)

Marujada do Quaresma (Setubinha)

Marujada dos Mendes (Setubinha)

Banda de Taquara Bumba Boi do Sapé/Timirim (Angelândia)

Banda de Taquara de Santo Antônio dos Moreiras (Angelândia)

Banda Antiga Geração de Santo Antônio dos Moreiras (Angelândia)

Banda de Taquara de Chapadinha/São Benedito (Capelinha e Angelândia)

Marujada de Santo Antônio do Fanado (Capelinha)

Banda de Taquara Mirim da Escola Estadual Sebastião Peçanha (Capelinha)

Banda de Taquara de Bem Posta (Minas Novas)

Marujada União de Quilombo/Santiago (Minas Novas)

Banda de Taquara de Cabeceiras (Minas Novas)

Guarda de Honra da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (Minas Novas)

Folia de Soturno da Mata (Setubinha)

Folia de Santa Cruz de Palmeiras (Novo Cruzeiro)

Folia de Santos Reis de Dona Maria do Bode (Almenara)

Caixa de Assovio (Serro)

Pipiruí (Conceição do Mato Dentro)

Banda de Flautas de Sumidouro (Santa Bárbara)

OUTRAS ATIVIDADES DURANTE O EVENTO

> Feira de artesanato e produtos da roça

> Exposição de fotos sobre as bandas de taquara e edições anteriores do Encontro de Flautas

 

HISTÓRICO

O Encontro de Flautas do Jequitinhonha é um festival que tem a missão de fomentar a cultura popular com um enfoque especial para as bandas de taquara, que são grupos centenários típicos da região, semelhantes às bandas de pífanos do Nordeste brasileiro e importante patrimônio cultural do Jequitinhonha. O Encontro é itinerante, realizado a cada ano em uma das comunidades do Alto-Médio Jequitinhonha, onde as bandas de taquara são tradicionais, envolvendo parceiros locais e uma grande rede de apoio.

O evento foi idealizado pelo músico e pesquisador Daniel de Lima Magalhães, depois de 15 anos de pesquisas, que envolveram publicações e produtos audiovisuais. A proposta foi a de criar um espaço de cooperação e intercâmbio entre as bandas e promoção da cultura regional. Com a colaboração da musicista, pesquisadora e produtora cultural, Letícia Bertelli, foi concebida a primeira edição, com um formato que se manteve e ficou consolidado nas edições posteriores. A proposta foi, desde o início, a de um evento itinerante, sempre realizado na zona rural, em comunidades onde a cultura das bandas de taquara está presente. Para abrigar as atividades do evento, constrói-se, a cada Encontro, em sistema de mutirão, um grande galpão com cobertura de folha da palmeira catolé, típica da região.

A programação dos vários encontros incluiu apresentações das bandas de taquara, grupos de folias de reis, oficinas de saberes tradicionais (confecção de flautas, caixas, zabumbas, reco-recos, máscaras das bandas de taquara, panelas de cerâmica, peneiras e balaios de taquara, processamento de cera de abelha, danças regionais e cantos tradicionais), rodas de conversa, exposições de fotos, mesadas de leilão (tradicional nas festas locais), feira de artesanato e agricultura familiar e visita a sítios históricos e ateliers de artesanato. Seguindo o costume das festas populares, a alimentação de todos os convidados e público é fornecida gratuitamente ao longo dos dois dias de evento.

Entre 2016 e 2024, foram realizadas sete edições do Encontro nas comunidades de Quilombo, em Minas Novas; Córrego dos Ramos, em Angelândia; Santo Antônio do Fanado, em Capelinha; Quaresma, em Setubinha; Sapé-Timirim, tembém em Angelândia; Bem Posta, novamente em Minas Novas; e Santo Antônio dos Moreiras, novamente em Angelândia. A média de público tem sido de 1500 participantes em dois dias de evento. Visitantes que vêm de cidades distantes são acomodados nas próprias comunidades rurais promovendo uma intensa vivência cultural e estabelecendo laços afetivos que perduram para além dos eventos em si.

Entre importantes desdobramentos motivados pelo Encontro, destacam-se a reativação de duas bandas de taquara no município de Setubinha – das comunidades de Palmeiras do Vale e Quaresma – que estavam paradas, a primeira, há 30 anos e a segunda, há 15 anos. Hoje estes grupos estão em plena atividade, requisitados para inúmeros eventos de sua região. Outra consequência do efeito incentivador do festival, foi a reativação, na comunidade de Córrego dos Ramos, no município de Angelândia, da tradicional atividade de cerâmica, adormecida ali durante mais de 20 anos, com a produção de mais de 120 peças, entre panelas, botijas, potes e candeeiros e que teve grande repercussão local e na feira de artesanato do II Encontro de Flautas. Outra ação, implementada por ocasião do III Encontro, foi um mutirão de fabricação de instrumentos musicais, coordenada pelos Mestres Antônio de Bastião, de Minas Novas, e Sebastião Chaves, de Angelândia, com 10 caixas e 4 zabumbas fabricadas, que equiparam 4 bandas de taquara mirins da região. Uma destas bandas mirins foi criada a partir da doação dos instrumentos na Escola Estadual Sebastião Peçanha, no distrito de Chapadinha, município de Capelinha. A Banda Mirim desta Escola consolidou-se como atividade curricular permanente e participará este ano no Encontro de Flautas pela quarta vez.

OFICINA DE INVENTÁRIO CULTURAL PARTICIPATIVO

O Inventário Cultural Participativo (ICP) é um instrumento utilizado pelo IEPHA-MG para identificar e sistematizar informações e características de expressões culturais: sua história, seus usos, significados e valores atribuídos por aqueles/as que vivem determinada expressão cultural (os/as detentores/as). Seu princípio é que detentores possam selecionar referências culturais e produzir fichas a fim de identificar e documentar seu patrimônio cultural, visando ações para a proteção, promoção e salvaguarda. O objetivo desta oficina de ICP, a ser realizada em 27/09/2025, dentro da programação do 8º Encontro de Flautas do Jequitinhonha, é de adotar um princípio participativo com as comunidades detentoras para fundamentar o processo de registro das Expressões culturais associadas às flautas tradicionais mineiras, processo este atualmente em curso no âmbito do Iepha. A execução da oficina de ICP apresenta um percurso de três etapas: Patrimônio na Vida, na qual há uma troca entre os detentores e os técnicos, a respeito de conceitos; Oficinas de Mapas de Percepção, momento no qual os/as detentores/as representam em desenhos as referências culturais que consideram mais relevantes; e a elaboração manuscrita das Fichas de inventário das referências centrais selecionadas pelos detentores.

FÓRUM DE MINAS GERAIS DO INVENTÁRIO NACIONAL DAS BANDAS DE PÍFANOS

Além do registro estadual pelo Iepha, está aberto, junto ao IPHAN, o processo de registro das Bandas de Pífanos do Nordeste e Minas Gerais como patrimônio imaterial cultural brasileiro. Dentro do inventário do IPHAN, estão previstos quatro fóruns de escuta das comunidades detentoras do bem cultural nos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia e Minas Gerais. O fórum de Minas Gerais ocorrerá, também no dia 27/09/2025, dentro da programação do 8º Encontro de Flautas do Jequitinhonha. O inventário do IPHAN tem previsão de conclusão no primeiro semestre de 2026.

AS BANDAS DE TAQUARA DO VALE DO JEQUITINHONHA

Por Daniel de Lima Magalhães

Na zona rural dos municípios de Capelinha, Minas Novas, Angelândia, Setubinha e Novo Cruzeiro no Alto-Médio Jequitinhonha, além de Malacacheta, na bacia do Urupuca, tributário do Doce, apresenta-se a popular figura do canudeiro, tocando uma flauta chamada canudo. Este é o principal nome regional que recebe a mesma flauta conhecida por gaita em outras partes do norte de Minas, e nos estados de Sergipe e Bahia. Participa o canudeiro de conjuntos musicais centenários, conhecidos por marujadas ou bandas de taquara, nome mais recente que revela o material tradicional de fatura das flautas. Algumas comunidades rurais da região conservam vivas as tradições das bandas de taquara: Bem Posta e Santiago/Quilombo, no município de Minas Novas; Santo Antônio do Fanado e Chapadinha, no município de Capelinha; Santo Antônio dos Moreiras (onde há duas), Sapé/Timirim e Córrego dos Ramos, no município de Angelândia; Quaresma, Palmeiras do Vale e Córrego dos Mendes, no município de Setubinha. Destas, as comunidades de Bem Posta, Quilombo, Santo Antônio dos Moreiras, Santo Antônio do Fanado e Quaresma são também tituladas como comunidades quilombolas.

A instrumentação dos grupos é constituída de duas flautas, caixas (três ou mais), zabumba (um ou mais), pandeiros e reco-recos. Algumas bandas incluem também instrumentos como o acordeon, a sanfona, a viola ou o cavaquinho e têm em média de 12 a 15 integrantes, podendo chegar a 20 tocadores ou mais.

Entre as bandas, há algumas bem antigas, contando certamente com mais de 100 anos de atividade. Outras são mais recentes, apesar de formadas por tocadores experientes, que participaram de grupos antigos, reativados depois de muitos anos. A criação de novas bandas e a retomada de bandas antigas continua em pleno vigor, como é caso das bandas das comunidades de Quaresma e Palmeiras do Vale.

As bandas de taquara, enquanto bandas de música, são requisitadas principalmente para as domingadas e as festas de santo, sendo as responsáveis, nestes eventos, pelos levantamentos de mastro, procissões, alvoradas, acompanhamento de danças e leilões. Apesar das incertezas quanto à origem destas bandas ou marujadas, pode-se dizer que elas são peculiares a esta região, com características marcantes, que as distinguem de outras marujadas mineiras ou de outros estados e de formações instrumentais que têm presença de flautas e caixas (como os pifeiros do Serro e Minas Novas, as folias do Baixo Jequitinhonha ou as bandas de pífanos espalhados por todo o Nordeste brasileiro). Tal singularidade confere a este patrimônio uma grande relevância e que inspira ações de salvaguarda compatíveis com seu valor cultural. Em 2019, o Iepha-MG (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) aceitou o pedido de registro para tornar as bandas de taquara, Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS SOBRE O 8º ENCONTRO DE FLAUTAS DO JEQUITINHONHA

O 8º Encontro de Flautas do Jequitinhonha será realizado em Palmeiras do Vale, município de Setubinha/MG, nos dias 27 e 28 de setembro de 2025. A participação é gratuita, incluindo refeições e café servidos durante o evento.

Palmeiras do Vale localiza-se no Alto-Jequitinhonha a uma distância de cerca de 500 km de Belo Horizonte, distância que pode variar dependendo da rota utilizada. Informações detalhadas de como chegar ao Encontro e opções de hospedagem podem ser obtidas na página do evento no Facebook.

VISITE:

facebook.com/flautasdojequitinhonha

instagram: @flautas_do_jequitinhonha

SERVIÇO:

8º ENCONTRO DE FLAUTAS DO JEQUITINHONHA

Palmeiras do Vale – Setubinha/MG

27 de setembro, sábado, de 9h às 21h

28 de setembro, domingo, de 8h às 15h

ENTRADA FRANCA

Idealização e coordenação: Daniel de Lima Magalhães e Letícia Bertelli

Promoção: Comunidade de Palmeiras do Vale e Ponto de Cultura Encontro de Flautas do Jequitinhonha

Parceria: Prefeitura Municipal de Setubinha

Realização: PNAB (Política Nacional Aldir Blanc)

Informações:

flautasdojequitinhonha@gmail.com